ANOZ - Estreia

29 de Agosto de 2001

O corpo é o descentro Anoz é o oposto do mundo zona. A mentira é boa assim como tudo o que é falso é estúpido.
Os vários objectos que estamos a produzir completam-se concentricamente. Todos eles têm a sua génese nesta ideia de territórios / zonas. A ideia de procurar na forma das coisas a forma das forças, como o trocadilho do título prenuncia, transporta em si um pouco da dimensão que esta ideia despoletou em nós. Sem que a nossa primeira intenção fosse clara começámos a desenvolver uma série de conceitos que giram à volta da ideia de desterritorialização do acto de teatro. Um abusivo “design teatral" como instrumento para chegar à forma que questiona e propõe o espaço e o som da representação.
A ideia de Mal é um território em que não nos movemos e no qual nos reconhecemos. Anoz é uma ideia sobre a origem do fim, o local onde as forças se escondem e repousam imediatamente depois de morrer. Alguma coisa altera-se aqui, sentes? Eu não e tu? -- Olha se perceberes e eu não avisa-me. Na Anoz os bebés nascem nas árvores e a água está cheia de palavras. A verdade é um rio cheio de ecos vagos. Um poço onde todos vão beber.
Na Anoz se se ficar muito tempo a olhar para uma coisa fica-se diferente. O jogo é sempre o mesmo no qual o espectador vai analisando as suas capacidades de raciocínio ao longo das jogadas. É um jogo que deve ser explicado detalhadamente. Um espelho que se vai desfocando. O amor é a porta e a pergunta. Dita de uma forma natural e crua prolongando a dor até o dia nascer. Há catástrofes mas não se vêm nem se ouvem por causa do festim. É onde nada existe nem ninguém mas a vida continua. E as estórias de testemunhas que nos levam a passear pelas ruínas e se esforçam por explicar aquilo que vêm e cobram dinheiro como os guias fazem aos turistas.

O fadista
O fadista é um possuído que transporta os outros. Uma espécie de xaman que serve de autocarro para o sentimento. É preciso calar-se primeiro para depois de ouvir o seu interior, a sua voz o expressar para os outros. A emoção à beira do precipício. O sentimento, a raiz, a palavra, a alma, o tempo, a voz, os tiques.



The body is the decentralization.Anoz is the opposite of the world Zona.The lye is good, just as all that is false is stupid.
The several objects that we produce complete each other concentrically. They all have their genesis in this idea of territories / zones. The idea of seeking the form of forces in the form of things, as the pun in the title suggests, gives some notion of the dimension that this idea aroused in us. Without any clear real intention, we began to develop a series of concepts centered around the idea of deterritorialization of the theatrical act. An abusive “theatrical design" as an instrument to arrive at a form that questions and proposes the space and the sound of the performance.
The idea about Evil is a territory in which we don’t walk and in which we recognize ourselves. Anoz is an idea about the origin of the end, the place where forces hide and lie immediately after they die. Something is changing here, do you feel it? I don’t and you? – look, if you feel it and I don’t, tell me. In Anoz babies are born in trees and the water is full of words. Truth is a river full of vague echoes. A well where everyone goes to drink.
In ANOZ, if you spend too long looking at a thing it becomes different. The game is always the same, a game in which the spectator analyses its powers of reasoning through each round. It is a game that should be explained in detail. A mirror that blurs. Love is the door and the question. Uttered in a natural, unrefined way, prolonging the pain until daybreak. There are catastrophes but they are not seen nor heard because of the feast. It is where nothing and nobody exists but life goes on. And the stories of the witnesses that lead us through the ruins, trying hard to explain what they see, and charging us for it, just as tour guides charge the tourists.

The fadista
The fadista is a possessed that carries the others. A kind of Shaman used as transportation for the feeling. You must be quiet first to hear afterwards. Emotion at the edge of a precipice. The feeling, the root, the word, the soul, the time, the voice, the tics.