Teatro da Politécnica
A velocidade tornou-se uma obsessão. Sinto no entanto os seus efeitos como um desafio, um sabor que se espraia pelo corpo lentamente, como um animal que se espreguiça por dentro de outro animal. Um ocupante desejado e estranho em simultâneo, que se desdobra continuamente e pronuncia um monologo incessante. Vozes soltas à solta dentro de um corpo. Vozes desordem que lutam por uma sombra, por uma parede onde ecoar. Aos poucos outros ocupantes vão perdendo o medo levantam-se dos escombros sacodem o pó e falam a medo primeiro, com alegria depois, a surpresa de estarem vivos a que se sucede o desejo infantil de tudo experimentar, de tudo querer, de tudo destruir. As pedras substituem as palavras e os risos são facas e carícias, cortam e chocam, deixam passar a corrente, golfadas pequenas, pontapés e pelos eriçados. A Guerra começou aonde?(...)
JGM
olá guruzão,
...tenho algumas palavras para partilhar sobre a "ODE to..." valem o que valem...assim mesmo em bruto.
Independentemente da base do espectáculo, os escritos de Aníbal L. Canibal, não me dizerem nada em particular, o facto de na maior parte do tempo não estarem à superfície, ajudou.
O ambiente inicial Abriu-me um espaço-bolha, onde as células seguintes me estimulam a desencadear ligações internas, que me direccionam e emocionam mais ou menos. É um momento essencial de construção e caminhada. São a forma e consistência da peça. Onde nos ambientamos e reconhecemos o arquivo a que vamos aceder nos próximos momentos. Aí começamos a desfrutar ou vamos embora. Não sei porque estou a escrever isto...adiante.
Pois, já sei. Os primeiros momentos foram brutais, fabulosa interpretação...aquela personagem, os seus sons, movimentos e gestualidade...a projecção do jardim...a manipulação sonora do barulho das pedras...excelente. Todos os elementos se entranhavam uns nos outros com uma organícidade superior.
Quando a s portas se abrem e se vê o jardim, existe qualquer coisa que desaparece naquela magia anterior...se calhar era propositado, o jardim ser desagradável e humanizado...não sei se a luz lá dentro não devia ser diferente...apesar do sol...e ver o autocolante de saída de emergência até me arrepiou...pormenores...
Outro arrepio é mais `frente, quando o texto toma conta da cena..., dito por inteiro, não sei bem quem eram aquele homem e aquela mulher que de repente ali apareciam... todo o imaginário que comungamos e por onde deambulamos estupefactos a flutuar, (através da interpretação do Luís, opções cenográficas, manipulação sonora e ambientes num ritmo excelente), desaparece como se uma bolha de sabão rebentasse ali nas nossas expressões boquiabertas, e o sabor do detergente nos fizesse franzir a cara...propositado? Objectivo mais que atingido.
A cena da ida repetidamente da cadeira ao armário levar calhaus, o ritmo, a movimentação, a gestualidade, a relação, o riso estridente e o culminar com a ida dela à porta e voltar e ir e voltar e ir e voltar e não ser ninguém, e não ser ninguém e não ser ninguém...é um momento muito bom.
Agradou-me a certa atura sentir que estava a ser manipulada no sentido inverso, e que aquela múmia/canibal/homem estava em transformação inversa na direcção do comum dos mortais...ao entrares no jardim, transformas-te em homem e esse é o teu pior pesadelo...mas não...existiram momentos em que perto do final o homem apareceu pela identificação a rotinas/situações/ obsessões/ Taras humanas...mas não resultaram, eram demasiado pontiagudas para a nossa bolha, demasiado banais na sua exposição algumas... se não fosse o brilhantismo da construção da personagem do Luís e a força com que nos agarra....matavam a peça...
Porque é que se sentiu que se investiu tanto na caracterização dele (que o ajudou muito na eficácia da personagem) e nada na dela? (podia não estar lá a moça, tirando a cena dos risinhos em que vai à porta repetidamente e não é ninguém...)
A ideia dos estilhaços seduz-me. As repetições das tarefas. Os vários episódios. A desconstrução em cacos do texto. O rio que corre debaixo do jardim. O cíclico da forma.
A cena dos sofás é muito má...quando andam aos gritinhos a fazer poses equilibristas...talvez se não se visse...só o som e o barulho...e a imagem das tvs...A gestualidade do Luís no final, quando “regressa” à múmia, fica mesmo no limite do ser demais os braços levantados à frente...
Foi um bom espectáculo.
Obrigada a todos os intervenientes.
Ana Santos
MADE IN EDEN - An Ode to my dead friends
http://made-in-eden.blogspot.com/
Estreia: 7 de Novembro de 2007
Teatro da Politécnica, Lisboa
em cena até 2 de Dezembro às 21h e 30m,
dias 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro às 16 horas.
"Made in Eden - an ode to my dead friends"
Em cena no Teatro da Politécnica, em Lisboa, a partir de quarta-feira
in SicOnline.
(...) João Garcia Miguel afirma ser um recado para a sua geração: “Começas a ter poder, perdes essa capacidade de viver a vida intensamente”. “Made in Éden” é selvagem e cómica, às vezes grotesca, outras clarividente. Uma espécie de peça de teatro punk.
Made in Eden
de João Garcia Miguel e Miguel Moreira
com Luís Guerra e Sara de Castro,
in Cartaz.expresso.clix.pt
(...) Peça criada a partir de "Epístolas de Guerra", textos publicados no livro Estilhaços, de Adolfo Luxúria Canibal, Made in Eden - An Ode to My Dead Friends cria uma narrativa que os autores consideram "lacunar e irreal". (...)
Co-Produção: JGM ÚTERO O BANDO ESPAÇO DO TEMPO
Encenação e Dramaturgia : João Garcia Miguel
Coaching: Miguel Moreira
Texto – a partir de Estilhaços de Adolfo Luxúria Canibal
Interpretação: Luís Guerra e Sara de Castro
Cenografia: Mantos e Pedro Santos Figurinos: Miguel Moreira Música: Sérgio Martins e Rui Lima Fotografia: Miguel Nicolau Adereços: Jorge Sacadura Produção Executiva: Marta Vieira
Acolhimento: Teatro da Politécnica / Teatro Nacional D. Maria
Residência Artística: Manifestos Estilhaços - Convento da Saudação Estrutura Financiada por: Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes / Fundação Calouste Gulbenkian Apoios: Teatro da Politécnica / Teatro Nacional D.Maria II / Casa D’Os Dias da Água.
...tenho algumas palavras para partilhar sobre a "ODE to..." valem o que valem...assim mesmo em bruto.
Independentemente da base do espectáculo, os escritos de Aníbal L. Canibal, não me dizerem nada em particular, o facto de na maior parte do tempo não estarem à superfície, ajudou.
O ambiente inicial Abriu-me um espaço-bolha, onde as células seguintes me estimulam a desencadear ligações internas, que me direccionam e emocionam mais ou menos. É um momento essencial de construção e caminhada. São a forma e consistência da peça. Onde nos ambientamos e reconhecemos o arquivo a que vamos aceder nos próximos momentos. Aí começamos a desfrutar ou vamos embora. Não sei porque estou a escrever isto...adiante.
Pois, já sei. Os primeiros momentos foram brutais, fabulosa interpretação...aquela personagem, os seus sons, movimentos e gestualidade...a projecção do jardim...a manipulação sonora do barulho das pedras...excelente. Todos os elementos se entranhavam uns nos outros com uma organícidade superior.
Quando a s portas se abrem e se vê o jardim, existe qualquer coisa que desaparece naquela magia anterior...se calhar era propositado, o jardim ser desagradável e humanizado...não sei se a luz lá dentro não devia ser diferente...apesar do sol...e ver o autocolante de saída de emergência até me arrepiou...pormenores...
Outro arrepio é mais `frente, quando o texto toma conta da cena..., dito por inteiro, não sei bem quem eram aquele homem e aquela mulher que de repente ali apareciam... todo o imaginário que comungamos e por onde deambulamos estupefactos a flutuar, (através da interpretação do Luís, opções cenográficas, manipulação sonora e ambientes num ritmo excelente), desaparece como se uma bolha de sabão rebentasse ali nas nossas expressões boquiabertas, e o sabor do detergente nos fizesse franzir a cara...propositado? Objectivo mais que atingido.
A cena da ida repetidamente da cadeira ao armário levar calhaus, o ritmo, a movimentação, a gestualidade, a relação, o riso estridente e o culminar com a ida dela à porta e voltar e ir e voltar e ir e voltar e não ser ninguém, e não ser ninguém e não ser ninguém...é um momento muito bom.
Agradou-me a certa atura sentir que estava a ser manipulada no sentido inverso, e que aquela múmia/canibal/homem estava em transformação inversa na direcção do comum dos mortais...ao entrares no jardim, transformas-te em homem e esse é o teu pior pesadelo...mas não...existiram momentos em que perto do final o homem apareceu pela identificação a rotinas/situações/ obsessões/ Taras humanas...mas não resultaram, eram demasiado pontiagudas para a nossa bolha, demasiado banais na sua exposição algumas... se não fosse o brilhantismo da construção da personagem do Luís e a força com que nos agarra....matavam a peça...
Porque é que se sentiu que se investiu tanto na caracterização dele (que o ajudou muito na eficácia da personagem) e nada na dela? (podia não estar lá a moça, tirando a cena dos risinhos em que vai à porta repetidamente e não é ninguém...)
A ideia dos estilhaços seduz-me. As repetições das tarefas. Os vários episódios. A desconstrução em cacos do texto. O rio que corre debaixo do jardim. O cíclico da forma.
A cena dos sofás é muito má...quando andam aos gritinhos a fazer poses equilibristas...talvez se não se visse...só o som e o barulho...e a imagem das tvs...A gestualidade do Luís no final, quando “regressa” à múmia, fica mesmo no limite do ser demais os braços levantados à frente...
Foi um bom espectáculo.
Obrigada a todos os intervenientes.
Ana Santos
MADE IN EDEN - An Ode to my dead friends
http://made-in-eden.blogspot.com/
Estreia: 7 de Novembro de 2007
Teatro da Politécnica, Lisboa
em cena até 2 de Dezembro às 21h e 30m,
dias 30 de Novembro, 1 e 2 de Dezembro às 16 horas.
"Made in Eden - an ode to my dead friends"
Em cena no Teatro da Politécnica, em Lisboa, a partir de quarta-feira
in SicOnline.
(...) João Garcia Miguel afirma ser um recado para a sua geração: “Começas a ter poder, perdes essa capacidade de viver a vida intensamente”. “Made in Éden” é selvagem e cómica, às vezes grotesca, outras clarividente. Uma espécie de peça de teatro punk.
Made in Eden
de João Garcia Miguel e Miguel Moreira
com Luís Guerra e Sara de Castro,
in Cartaz.expresso.clix.pt
(...) Peça criada a partir de "Epístolas de Guerra", textos publicados no livro Estilhaços, de Adolfo Luxúria Canibal, Made in Eden - An Ode to My Dead Friends cria uma narrativa que os autores consideram "lacunar e irreal". (...)
Co-Produção: JGM ÚTERO O BANDO ESPAÇO DO TEMPO
Encenação e Dramaturgia : João Garcia Miguel
Coaching: Miguel Moreira
Texto – a partir de Estilhaços de Adolfo Luxúria Canibal
Interpretação: Luís Guerra e Sara de Castro
Cenografia: Mantos e Pedro Santos Figurinos: Miguel Moreira Música: Sérgio Martins e Rui Lima Fotografia: Miguel Nicolau Adereços: Jorge Sacadura Produção Executiva: Marta Vieira
Acolhimento: Teatro da Politécnica / Teatro Nacional D. Maria
Residência Artística: Manifestos Estilhaços - Convento da Saudação Estrutura Financiada por: Ministério da Cultura / Direcção-Geral das Artes / Fundação Calouste Gulbenkian Apoios: Teatro da Politécnica / Teatro Nacional D.Maria II / Casa D’Os Dias da Água.