HUMANAUTA - Estreia

Armazém Lémauto

1 de Julho de 1994


Humanauta tem como ideia de partida a sobrevivência do Homem depois da morte do sol. É uma obra de ficção que prolonga as faculdades do corpo e do espírito retransformando-as, reciclando formas e tornando as funções ambíguas mais aptas a sobreviver às transgressões do tempo.
Fizémos uma aproximação à guerra,à indústria pesada, ao virtual, à dança de S. Vito e à decomposição biológica dos seres, tendo em vista a aceleração do movimento de expansão do Universo.

E se houver uma forma superior de mimetismo consciente, uma forma que nenhum ser humano, ou poucos, tenham detectado? E se ele só puder ser detectada se o quiser?

Utilizámos todas as fontes de informação disponíveis, desde o som da água a ferver até às teorias quânticas contemporâneas.
O espectáculo é o desenho de um mapa que se percepciona no absoluto construir de novos impossíveis.
Alguns biólogos têm especulado sobre a possibilidade de existência de formas superiores de mimetismo, uma vez que as formas que enganam os que querem enganar (mas não a nós, os humanos) foram encontradas em todas as partes do mundo.

MEMÓRIA DESCRITIVA
Na travessia do barco todos têm medo, mas os meninos têm pavor. Das águas eleva-se o espírito do rio.
Saltam peixes eléctricos. O barco desliza suavamente sobre o rio.
As águas parecem mercúrio sob o céu cinzento. Mãe. Este mar vai dar onde?
Ao lugar que nos espera.
Àquele a que pertencemos?
Àquele que vamos ainda descobrir.


Encenação / Argumento - João Garcia Miguel
Dramaturgia - Alexandre Crespo e João Samões
Cenografia - Eric da Costa; João Garcia Miguel;
Figurinos - Rafaela Mapril; Elsa Lima
Música/ Sonoplastia - Fernando Gerardo; João Garcia Miguel; Miguel Costa; Pedro Soares
Luminotecnia - David Palma
Aderecista - Eric da Costa
Assistência de Encenação - Claúdia Gama
Laboratório Voz - Susana Vasconcelos
Laboratório Corpo - Filipa Francisco
Análise de Improvisação - Dora Lourenço
Assistência de Montagem - Miguel Ângelo; Nuno Moreira
Atelier de Modelagem / Costura - Isabel Lopes Dias; Sónia Marques
Assistência Adereços - João Samões; Miguel Ângelo;Nuno Moreira; Paula Hespanha; Rita Pereira
Maquilhagem - Jorge Bragada e Cláudia Gama
Design Gráfico - Rodrigo Miragaia
Colaboradores Permanentes - Espaço para Criar; Zé Maria; Direito a respirar
Aconselhamento Conceptual - Rui Silvares (poético); Carlos Flor Dias (horticultura); Pedro Eloy Duarte
Fotografia - Paulo Valente
Vídeo - Ricardo Resende
Produção - Claúdia Gama
Assistente de Produção para Imprensa - Auta de Paula
Secretariado - Alfredo Nunes; Fernando Gerardo
Direcção Geral / Artística - João Garcia Miguel

ELENCO
Alexandre Crespo; Alfredo Nunes; Ana Borralho; Ana Filipe; Auta de Paula; Bernardette Martins;Claúdia Gama; Dora Lourenço; Duarte Nuno; Eric da Costa; Filipa Francisco; Joana Calhau; João Garcia Miguel; João Samões; Jorge Emanuel; Lúcia Marques; Manuel Dourado; Mário Neves; Miguel Moreira; Mónica Carneiro;Mónica Samões; Nury Ribeiro; Patrícia de Oliveira; Rita Só,Rita Pereira; Rodrigo Cortês; Rodrigo Machado; Rui Roque; Sandra Gonçalves; Susana Matos; Susana Vasconcelos.



Apoios:Lémauto; Câmara Municipal de Almada; Clube Português Artes e Ideias; Fundação Calouste Gulbenkian; Instituto da Juventude; Junta de Freguesia do Laranjeiro; Omnicel; Bosch; Black & Decker; Bostik; J.B. Fernandes; Blitz; Diário de Notícias;Luzeiro; Lunática, Filme e Vídeo; Mary Chor; Transtejo; SIC


7 de Julho de 1994
in público, Guerra futurista em Cacilhas


No vasto e desabitado espaço de um velho armazém situado frente aos estaleiros da Lisnave, em Cacilhas, um grupo de teatro chamado Olho - revelado no ano capicua de 1991, ainda com o nome de GIC Grupo de Intervenção Cultural - treina-se para a guerra pós-apocalíptica.
Do trabalho realizado pelo grupo entre 1991 e 1994 destacam-se as frequentes participações em actuações teatrais de rua, nas Festas da Cidade de Lisboa. O Olho é hoje o projecto mais coerente neste género de espectáculo e o que mais tem aprofundado a miscegenação do teatro com a dança e as artes plásticas.
\"Humanauta\", a performance que hoje pode ser vista no armazém de Cacilhas obriga o espectador a participar numa expedição por espaços e tempos onírico-caóticos, entre cataclismos e incêndios cósmicos, pântanos e destroços de guerras galácticas, girassóis enforcados e criaturas minotáuridas (sobreviventes de \"El\", o primeiro trabalho do Olho), veículos-prisões e naves anfíbias. Deambulamos num mundo em que os humanóides são os lobos dos outros humanóides e os monstros armam emboscadas aos monstros. Entre eles há um cujo discurso vem nos \"Lusíadas\", no episódio do Adamastor, quando este diz que há-de tirar vingança de quem o descobriu.
Sobrevivem, assim, neste mundo calcinado restos de velhas epopeias humanas. E até mesmo músicas madeirenses, dançadas por seres paramentados como os caretos transmontanos. E abundam as citações quer de \"El\", o primeiro trabalho do grupo, quer de algumas das acções de rua acima referidas.
A ideia geral que fica desta \"performance das performances\" - esta \"obra completa\" do Olho, se preferirem - é a do amadurecimento do grupo. Por vezes, nota-se uma tendência para a cristalização. O que não é defeito. A companhia criada e animada por João García Miguel sabe que o seu projecto artístico é consistente e o espectador não terá dificuldade em perceber que assim é se for hoje, amanhã ou no sábado, às 22h45, ao nº 27 da Avenida Aliança Povo - MFA. Não se vai arrepender.